DESBRAVANDO o Brasil

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Senepol aposta na aliança entre funcionalidade e adaptabilidade para vencer na produção a pasto

É possível produzir uma carne macia sem ajuda do marmoreio? A resposta é sim! “Sem marmoreio, a maciez ocorre devido à menor perda de líquido no cozimento”, explica Gilmar Goudard, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos Senepol (ABCB Senepol). E como chegar a esta receita? Misture adaptabilidade aos trópicos, acrescente um pouco de rusticidade, adicione também precocidade e longevidade sexual e, por último, junte baixo índice de infestação a parasitas e insetos. Como resultado obtenha o Senepol, uma raça que vem conquistando cada vez mais espaço no Brasil. Segundo Goudard, a raça proporciona um dos melhores valores de maciez na força de cisalhamento e, mesmo sem índices significativos de marmoreio, o acabamento de gordura dos seus cortes são indicadores importantes de uma boa terminação de carcaça.

O animal pode ser criado a pasto sem a necessidade de manejo especial e tamdesbravando Senepol aposta na aliança entre funcionalidade e adaptabilidade para vencer na produção a pasto bém possui grande longevidade, com as vacas chegando aos 15 ou 20 anos produzindo. Ele é o único taurino que acompanha a vacada a campo, graças à temperatura corporal mais baixa e ao pelo curto, também chamado de “zero”. Outro ponto positivo é o temperamento extremamente dócil. Eis os motivos pelo qual a raça vem sendo disseminada nas principais regiões da pecuária brasileira. Hoje, temos o maior plantel de Senepol do mundo”, comemora o presidente da ABCB Senepol. Inclusive, dados da associação apontam que há 175 criatórios distribuídos em 14 estados. A taxa anual de crescimento médio do rebanho fica próximo dos 50% e é a raça taurina adaptada que mais cresce no País.

Trajetória de sucesso do Senepol foi um dos legados deixados pelo pecuarista João Arantes Júnior, que no ano 2000 viajou para os Estados Unidos e importou os primeiros exemplares da raça. O momento era promissor, o País trilhava um o Brasil caminho para a liderança mundial nas exportações de carne bovina, e ele não pensou duas vezes ao adquirir 72 fêmeas, entre novilhas e doadoras, que partiram em uma viagem da Flórida/EUA para Porto Velho/RO num jato comercial DC-8. Em apenas uma década, a raça conseguiu formar um plantel B1, B2, PC e PO de mais de 80 mil exemplares. “No extremo Norte, em Rondônia, chegaram animais vivos que por lá resistiram, multiplicaram-se e se propagaram por toda a região. Já no Sudeste foram embriões congelados, doadoras e touros. No Centro-Oeste e no Nordeste grandes rebanhos de F1 são inseminados com Senepol, produzindo um tricross superprecoce surpreendente”, relata o médico-veterinário e criador Júnior Fernandes.

Atualmente, a utilização do Senepol no cruzamento industrial posicionou a raça na segunda colocação de vendas de sêmen entre os taurinos. “Só neste ano foram 82 mil doses”, afirma o presidente da ABCB Senepol. Outro fator importante é a questão da adaptabilidade. Essa é uma herança genética privilegiada de sua seleção natural. Em rápido contexto histórico, nos anos de 1800, os bovinos da raça N’Dama foram importados do Senegal, oeste africano, para a ilha caribenha de Saint Croix, Ilhas Virgens. O N’Dama foi uma primeira alternativa para o Caribe, não só pela resistência ao calor, aos insetos, parasitas e às doenças, mas também pela habilidade de sobrevivência em regiões pobres de pastagens. Para melhorar habilidade materna, fertilidade e imprimir caráter mocho, o gado africano fora cruzado com o britânico Red Poll. A partir dessa mescla, o Senepol foi selecionado e melhorado na América Central, onde as temperaturas altíssimas e os altos níveis de umidade lhe proporcionaram uma excelente condição para ser introduzido em solo brasileiro.

Tanto é que estas características têm contribuído em muito com a rápida disseminação do adaptado no País. Os touros cobrem uma maior quantidade de fêmeas, as vacas possuem menor intervalo entre partos e os bezerros desmamam com maior peso. Outro fator determinante é a rusticidade herdada do taurino africano. “A campo, a resistência ao carrapato se dá porque o animal possui pelos muitos curtos, em comparação à média das raças. Um mecanismo que ele usa em sua própria defesa”, aponta Goudard. A precocidade e a longevidade sexual também engrossam a lista das qualidades do Senepol. “A libido dos touros reforça sua capacidade de suprir a demanda por heterose a pasto. Aos 14 meses, eles já estão cobrindo vacas.”

 

QUALIDADES MARCANTES

O rendimento de carcaça da raça é, segundo a ABCB Senepol, altamente satisfatório, com índices entre 54% e 56%, com capa de gordura variando de 3 a 6 mm. Também aponta que 95% das prenhezes são obtidas por monta natural, atendendo pecuaristas que procuram heterose a pasto.

No abate técnico realizado neste ano de animais meio-sangue Senepol x Nelore tivemos o surpreendente resultado de abater animais muito precoces, com idade entre 21 e 22 meses e uma média de 21@ de peso para os machos e 18@ para as fêmeas. O aproveitamento de carcaça oscilou entre 56,7% e 53,9%, o acabamento de gordura entre 4,7 e 10,2 mm e a área de olho de lombo atingiu a média de 81,21 cmt2. “É tudo o que se espera de uma carne com excelente qualidade”, resume Goudard.

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Teo Neto levou a Alagoas o Senepol, que prefere o sol escaldante à sombra

O Senepol tem um hábito intenso de pastejo, permitindo, assim, um excelente ganho de peso. “No confinamento, outras características colaboram, em muito, com o desempenho da raça: o temperamento dócil dos animais potencializa a conversão alimentar e o menor gasto de energia para mantença, além da qualidade de carcaça. O Senepol é uma raça de corte moderna, compacta, com excelente estrutura esquelética e distribuição muscular, o que favorece também o ganho diário em confinamento”, diz Celso Menezes, superintendente técnico da ABCB Senepol.

No cruzamento industrial, ele ainda padroniza as crias. “É o desejo de todo criador e de todo invernista ter os lotes bem homogêneos, pois isso é muito valorizado e reconhecido pelo mercado. Não só os produtores de bezerros têm se beneficiado com essa característica no momento da venda como também os invernistas. O ganho médio em lotes padrões é muito maior”, conta Menezes.

O Senepol destaca-se pela qualidade dos tourinhos, diminui o “fundo” do lote, mocha 95% dos nascimentos, reduz o pelo a praticamente zero e gera animais com 2@ de peso a mais na desmama, ou seja, os animais são desmamados com oito meses e 10@ de peso. A raça encurta em um ano ou mais o abate, com peso equivalente ao de animais zebuínos abatidos aos 20 ou 24 meses, apresenta alta precocidade, os garrotes/touros cobrem aos 14 meses de idade e o touro adulto cobre até 50 vacas por estação, além do índice de prenhez da vacada com touro Senepol ser superior a 90%, de acordo com seus selecionadores. “Já existem diversas provas que atestam a conversão alimentar, de 1.600 g/dia” acrescenta Goudard.

Essas qualidAdes confirmadas foram expostas no Sumário Oficial da raça Senepol, publicado em parceria com o Programa Geneplus da Embrapa Gado de Corte, entidade que vem desenvolvendo várias avaliações sobre a raça. Há três anos, o trabalho avalia as DEPs dos touros Senepol. “A raça tem alta resistência a ectoparasitos comuns em nosso ambiente. Sabemos que o pelo zero, a coloração dos animais e a textura do couro colaboram para essa resistência, entre outros fatores que serão objeto de pesquisa por várias instituições, incluindo o Instituto de Zootecnia de Nova Odessa e a Embrapa, que já iniciaram investigações em torno desta questão”, conta.

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Padronização é uma característica marcante do Senepol

Para Goudard, no Brasil, por iniciativa própria dos criadores, existem vários programas de avaliação de desempenho da raça, o que tem colaborado também para o melhoramento genético do Senepol. “Não é à toa que existem 13 touros nacionais nas principais centrais de inseminação”, lembra.

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Para Gilmar Goudard, provas de desempenho atestam conversão alimentar

A fim de garantir o desenvolvimento da raça Senepol no Brasil e um crescimento autossustentável, a ABCB Senepol, responsável pelo Registro Genealógico da raça em nível nacional, por delegação do Ministério da Agricultura, não tem medido esforços com relação a melhorar o Serviço de Registro. “Ele é a pedra fundamental no processo de melhoramento genético do Senepol, pois é por meio do registro oficial de informações da raça é que garantimos a fidelidade dos dados a todos os envolvidos com o processo de melhoramento genético. Uma das ações nesse sentido, foi implementada neste ano pela ABCB Senepol, com a implementação de sistema totalmente informatizado de comunicações e de emissão de registros, dinamizando a interface do criador com a associação”, diz Menezes.

 

NA VISÃO DOS CRIADORES

No Centro-Oeste, a raça também está ajudando no desenvolvimento da pecuária. O músico, compositor e pecuarista Almir Sater, há seis anos, trabalha com touros Senepol em pleno Pantanal, na cidade de Rio Negro/MS, fazendo cruzamento industrial entre Senepol e Nelore. O plantel puro de Almir Sater (Marca BRM) fica em outra propriedade, localizada em Maracaju/MS.

“Os animais soltos sob o sol escaldante, como aqui em Alagoas, não procuram áreas cobertas dentro dos piquetes. É um animal que se sente mais à vontade no calor de 38°C”, reafirma o pecuarista Teo Vilela Neto, senepolista no estado de Alagoas. O criador, que realizou a Mostra do Senepol durante a Expoagro, acredita que cada vez mais o Nordeste conheçará a raça Senepol. “A partir do ano que vem já terei touros e matrizes próprios para vender e a expectativa é de que eles sejam muito bem aceitos pelo mercado”, diz ele.

Hoje, o criador que começou criação em 2011 mantém na propriedade, a 90 quilômetros da capital alagoana, 40 receptoras prenhas, 20 bezerros, sendo 11 fêmeas e nove machos. Possui também tourinhos e cinco matrizes POI. A aposta é no cruzamento industrial sem a necessidade de inseminação artificial em tempo fixo, que cresceu muito no estado, principalmente na região na qual se encontra.

 

Fonte: AG-A Revista do Criador